sábado, 21 de março de 2015

Miragem.

É teu mistério, agora compreendo. É o não saber, são as possibilidades da dúvida, são os riscos e encantos do desconhecido. Eu te espio por uma fresta aberta a golpes de machado e tu estás sob uma redoma de cristal em um castelo amaldiçoado. Tu entendes o que eu quero dizer? Tu és o número 42 e eu levei milhões de anos pra te descobrir. Tu és uma fenda na linha contínua do espaço-tempo, um buraco negro no qual eu me lancei e me esqueci, por descuido, de voltar. É o cheiro que eu inventei pra ti, que parece perfume barato, adocicado, com frescor de chuva. É, sobretudo, teu gosto que eu desvendo deduzindo improbabilidades e tateando incoerências. Eu quero te conservar suspensa na minha imaginação, onde teu nome ganha formas e cores infinitas, muito maiores do que as que tu sustenta. E é por isso que eu não vou te comer tão cedo, Nutella. Eu duvido que teu sabor supere tua fama. Além do mais, um potinho teu é um absurdo de caro pra um mero chocolate. Sou acomodado demais pra ir atrás de desvelar mentiras bonitinhas.

segunda-feira, 16 de março de 2015

Cuspe à Distância

Foda-se o lirismo piegas e o drama carregado de clichês. Foda-se o eufemismo e as coisas meio ditas. Foda-se o medo das palavras e a ignorância voluntária. Foda-se a insensatez e a falta de bom senso. Foda-se tu e tuas limitações irritantes. Tu é tão banal que me dá asco. Tua simplicidade me enoja e tua falta de jeito me dá pena. Tu é tão comum que eu poderia encontrar mil iguais a ti, caso eu me desse ao trabalho de procurar. Tu é tão limitada que não consegue entender ironias ou detectar o menor sinal de sarcasmo. Tu não entende metáforas ou comparações ou a mim. Tuas maneiras são rudes e teus modos, vergonhosos. Tua insegurança é infantil e digna de exorcismo. Tua vaidade narcisista me causa náuseas e ânsias de vômito. Tua figura me provoca raiva e teus gostos me envergonham. Eu me indigno com a tua presença no mundo e com a tua displicência aos teus efeitos. Eu te culpo, sim, pela minha raiva, pela minha frustração e, sobretudo, pela minha teimosia. Eu queria ter ímpeto pra te arrombar a casa e te obrigar a me ouvir. Eu queria ter coragem pra te confrontar e te humilhar, te pisar, te dar o que eu mereço. Eu queria embaralhar tuas sinapses e me colocar no teu cérebro à força. Eu queria arrancar teu coração do peito e exibi-lo na estante. E eu te amo.