sábado, 13 de agosto de 2011

As Três Fases da Tua Vida.

      Há três fases na vida... Mentira, eu sei que essa é uma maneira estúpida de começar, eu espero que lá pelo meio melhore um pouquinho. A verdade é que eu não quero que isso fique muito pessoal, o que me obriga a ser idiota e generalizar desse jeito. Vou usar a segunda pessoa porque vai me deixar mais confortável e, talvez, até ajude a criar alguma empatia. Como ia dizendo, é claro que viver é uma experiência subjetiva demais pra eu dividir em etapas e explicar cada uma delas de maneira isolada, como se não se cruzassem tipo, sei lá, partes da resolução de um problema de física. Também é imbecilidade acreditar que as experiências pelas quais passaram cada um que está lendo isso agora os levaram às mesmas conclusões. Assim como é inútil tirar conclusões absolutas a respeito da vida já que elas só servem pra nós mesmo e, enquanto vivemos, precisamos estar acessíveis a mudanças. O que penso agora pode não me servir muito depois. Ou seja, eu posso estar escrevendo um texto gigante que, provavelmente, vou achar muitíssimo idiota daqui a pouco.

      A visão que temos de nós mesmos, que necessariamente afeta a maneira como enxergamos o mundo e lidamos com as coisas, muda conforme o tempo. Em maior ou menor grau de intensidade, não seremos mais os menos daqui a alguns anos. Claro que a partir de um determinado momento tais mudanças tendem a diminuir, a ficarem sutis demais pra que as percebamos: felizmente, ganhamos certa estabilidade. É inviável viver em crise. O que não significa que eu esteja plenamente de acordo com o que vou dizer quando chegar à etapa três e concluir este texto. Tenho só vinte anos e qualquer coisa que eu diga sobre a existência ou a respeito do porquê disso ou daquilo vai sempre parecer precipitado, pra não dizer prepotente e babaca. Enfim, agora que já reconheci minhas limitações e justifiquei metade das baboseiras que vou escrever, posso explicar a vida sem muita culpa.

      Há três fases na vida. Na primeira tu quase não tens consciência da gravidade que é estar vivo. A menos que tenhas experimentado a morte de alguém próximo na infância, a vida não passa de uma sucessão de dias mais ou menos iguais. Tu não percebes o quão entediante eles são porque ocupas teu tempo livre com brincadeiras que, apesar de simples e bobas, te satisfazem. As relações sociais são ingênuas e as pessoas, sem que te dê conta, se parecem bem mais do que realmente são. Dizer só a verdade, na maior parte das vezes, parece o único caminho viável e tu não sabes direito como podes usá-la pra ferir as pessoas. Neste primeiro momento, as fantasias e invenções não terminam em decepções porque as expectativas que crias não dependem muito dos outros pra serem satisfeitas. Quando são frustradas, é muito fácil trocar por outras novas. O mundo é um lugar muito pequeno e a felicidade está ali, mas é ignorada. E talvez só esteja ali por isso.

      A segunda fase é a da desilusão. O conhecimento que colocam na tua cabeça com o passar dos anos desperta em ti uma curiosidade insaciável. Tu buscas, de forma masoquista, cada vez mais tentar compreender o que acontece e isso acaba mudando tua visão de mundo. Tu notas que há coisas muito erradas por aí e, de repente, tudo parece fora do lugar. Percebes que as pessoas, apesar de diferentes, têm em comum o dom de se contradizerem e um egocentrismo irritante. Começas a sentir um tédio inexplicável e um desinteresse patológico toma conta do teu espírito cansado de fazer quase nada. A existência adquire uma carga absurda e tu sentes o mundo pesar sobre os ombros: mal podes seguir em frente por causa das pernas hesitantes e da ligeira dor de cabeça que tens quase o tempo todo. O que te salva são fiapos de esperança que tu usas pra romantizar boas expectativas em situações cujas chances de acabarem bem são ridículas. E tu sofres voluntariamente com o que inventaste como se isso não fosse óbvio. Tu te sentes vítima de um lugar desregulado e te enoja ter dentro de ti a natureza humana responsável por tantas coisas revoltantes. A vida parece um martírio e tudo que há a se fazer é tentar se distrair pra esquecer isso.

      Enfim, a terceira e última fase eu chamo carinhosamente de “foda-se”. Tu finalmente começas a perceber o quanto é estúpido te deixar abater por problemas minúsculos comparados aos que têm bilhões de outras pessoas menos egoístas que tu. Tomas consciência do atraso de vida que era dramatizar tudo que te acontecia e ganhas certa serenidade e paciência pra lidar com as coisas. Aprendes a ser menos radical e intolerante com quem teve a sorte de não chegar ao teu grau de prepotência. Abres o peito pra encarar o que vier: te entregas consciente, sofres sem culpa, levanta, segue em frente um bocadinho melhor do que era. Ao invés de desprezar, passas a valorizar as pessoas que gostam de ti: a prestar atenção nos seus detalhes, ouvir o que têm a dizer, a lidar sem arrogância com seus defeitos. Tu escolhes acreditar nas coisas boas de novo e, tal qual na primeira fase, não perdes tempo sufocando com as ruins. Aceitas, enfim, que é inviável se estressar com o que está muito além da tua desprezível vontade: só o que resta é fazer tua parte e torcer pra que o resto se encaminhe. Tu juntas uns bons amigos, aproveitas como pode o que a vida tem a oferecer, investes no que sabes fazer e no que te dá orgulho e vai seguindo. Então tu percebes que viver nem é tão complicado assim. Passas a encarar a existência como algo absurdo demais pra ser levado tão a sério e adquires um fantástico cinismo que, além de sadio, é muito, muito divertido. Aí teu senso de humor não te deixa mais te enfiar nela, e tudo que fazes é rir da cara da merda.

7 comentários:

Ellen Brito disse...

Texto incrível! hahaha to entrando na fase três!

Caroline disse...

A cada novo texto que tu posta, admiro mais. Esse veio em boa hora, acho que estou na fase de transição entre a segunda e a terceira fase.

Obrigada por fazer do meu ócio, algo mais produtivo e interessante.

TIAGO JULIO MARTINS disse...

Ellen, 'brigado pelos comentários que tu sempre fazes! :)

Caroline, eu que agradeço pela atenção e por achar utilidade no que eu faço! Eu tento não levar tão a sério o que eu escrevo, mas é muito legal quando consigo fazer com que as pessoas se identifiquem, pensem um pouco ou pelo menos se divirtam, né. :)

Karina Pamplona disse...

Fico encantada com a forma de como tu vê o mundo

Jaya Magalhães disse...

Ultimamente, Tiago, acompanhando uns e outros pensamentos teus pelo twitter, percebo o quanto somos parecidos. Isso para mim é meio bizarro, já que nossa escrita caminha tão diferente. [Talvez não devesse me guiar apenas por isso, mas é o que temos. Foi por onde analisei].

Você com seus textos, contos, crônicas, tudo tão cru, real, intenso, irônico. Mesmo quando você fala de um sentimento romântico você é único. Eu, com as letras enfeitadas em poetices e amoramoramor. [Falar de amor é sempre mais fácil, me acomodei]. Enxergava apenas essa diferença.

Hoje eu me vi aí, vivendo essas fases. Passei por isso. Muita gente passou. Todo mundo, talvez. E gostei de me identificar. Para mim, único, apesar da difusão.

E outra surpresa: você com 20 anos. Essa escrita cheia de maturidade e estilo fincado. Imagino que daqui há alguns anos você estará impossível, extremamente possível. Haha.

Parabéns e obrigada. [Nunca sei terminar meus comentários aqui sem usar uma dessas palavras].

Abraço.

Jefferson disse...

Eu estou na 2ª fase e até aqui você acertou quase tudo.

Daqui a pouco eu ligo o foda-se. daqui a pouco...

Abraços Thiago.

Volto aqui com certeza.

TIAGO JULIO MARTINS disse...

'Brigado pela visita e pelo comentário, Jefferson! A fase 2 é a mais difícil e o pior é que não tem nenhum cheat pra passar dela. haha

Volta sim. :)