domingo, 8 de março de 2009

Ela.

imagem

*Texto diretamente inspirado nessa foto que é uma das coisas mais lindas que já vi e não sei da onde veio.

 

  

   Ela pressupôs que a felicidade era algo latente e duradouro, mas, isso foi segundos antes de deparar-se sozinha e com medo encarando um espelho recém-rachado apoiado pelo piso e a parede.

   Como vocês devem ter deduzido, a personagem trincou o espelho, quem sabe atirando algo, em conseqüência à brilhante e genial conclusão a que chegou: ser feliz é coisa de momento. Tal magnífica descoberta talvez tenha incitado pânico em nossa heroína, levando-a a reagir de forma violenta e impulsiva. Agora, vocês esperam que eu justifique a atitude dela, visto que eu a criei e tenho total controle sobre ela, bem como seu espaço e tempo e, conseqüentemente, sei o que houve e haverá. Bom, eu não vou explicar nada.

   Com a face dividida em quatro, linhas assimétricas que a cortam da testa ao queixo, ela solta gargalhadas, quase sem sons, intervaladas por momentos em que lhe falta o ar. Riso baixo, forte e ameaçador. Sorri como se tivesse conhecido o que há de mais engraçado no mundo. Contorcendo-se no chão, mão à boca, sem pudor algum. Às vezes de olhos fechados, e, quando torna a abri-los, surpreende-se com a imagem que enxerga refletida e não se agüenta: dá outra risada ainda mais forte que a anterior. Lágrimas escorrem, e todo mundo chora de tanto rir. De novo e de novo.

   Então, dez minutos depois, ela está exausta. Estirada num canto, sente cada pedaço do corpo dolorido e os músculos da face completamente dormentes. Ela tenta rir só mais uma vez, mas mover bochecha dói, esticar os lábios dói, franzir a testa dói e fechar os olhos dói insuportavelmente. Porém, nossa intrépida amiga é insistente e teimosa: num ato que apenas podemos interpretar como um caso claro de masoquismo, ela continua a admirar o espelho e lançar risinhos esparsos que lhe trazem uma dor aguda e puxam gemidos tímidos. Brotam mais lágrimas e elas se confundem, todas elas.

   Deitada de bruços no chão frio, fixando o espelho, ela sente uma leveza que nem sabia que existia. Posso dizer que ela sente independente do corpo, como se não tivesse corpo. Aliás, ela é só uma personagem literária e fictícia, então, teoricamente, ela não tem mesmo um corpo. Está ali, dormindo calma e serena como um sorrisinho meigo que me acalenta e traz paz.

   Uma história não continua sem personagens. Como eu não sou interessante e seria um despropósito acordar a moça, vamos encerrar nesse parágrafo. Morta ou sonhando, tanto faz, o final é feliz e o momento é eterno.

4 comentários:

Anônimo disse...

Ontem me vi vivendo tudo isso, só que pelo lado avesso.

Senti uma tristeza, um desânimo, uma vontade de dormir 3 dias seguidos e talvez mais um pouco, sem querer levantar da cama. E a vida me fazendo ir pro trabalho, atender telefone, dizer que está tudo bem. Chorei de soluçar, minha cabeça dóia e sentia uma vontade enorme de sair correndo mas era como se meus pés estivessem pregados no chão.

Minha garganta fechava e minha voz se calava toda vez que eu tentava pronunciar qualquer coisa que fosse.

Tudo assim, sem motivo. Talvez eu estivesse só tentando grudar aquele espelho, partido em quatro partes que me mostrou como eu me vejo dividida e irregular.

Jogada na cama depois de um dia eterno, adormeci repetindo que ia passar.

Byers disse...

Fala Brother!

Então cara, eu to trabalhando emcima daquele seu ultimo texto,eu esqueci de te avisar!

Desculpa a mancada, mas é que o tempo ta corrido, veio ai uma proposto de anuncio pra revista, vo visitar os caras no sabado, dai ate la fica no "flerte" manja ne?


:)

Anônimo disse...

hunn.
eu gostei disso. da imagem também.

é sutil, bonito e acalentador.
sim, eu gostei sim.
sabe, Tiago, você anda menos denso nos últimos posts...

selo pra você.

Louise disse...

Vago é etéreo.
Eu gosto do que é etéreo.