terça-feira, 2 de junho de 2009

Sobre Os Cabelos.

     Será que é a tua poesia? Ou tu toda é um soneto realista? Ou é só outra desculpa vã pra eu conseguir fiapos de inspiração? Queria escolher o que fazer com esse impulso. Falaria de felicidade. Nada de solidão, nada de melancolia, nada sobre o tempo. Mas, se eu desatar a falar de felicidade, eu inevitavelmente te mencionaria na segunda frase. E eu também não quero falar de ti. Não quero porque eu só diria coisas bobas... E a gente combinou que não agiríamos como idiotas cheios de ilusões. Só o que é invariável, nada de dramas. Porque “os sentimentos nascem, crescem, nos ferram e morrem”. Logo, não podemos nos tornar tão vulneráveis à pequenezas que provocarão em nós dores dispensáveis... Mas, sabe, tem um milhão de sutilezas tuas que me embasbacam. Daí escrevo. Porque é inútil não escrever, e eu só percebo agora, escrevendo.

     Eu tava admirando teus cabelos. Dissertaria três parágrafos sobre os teus cabelos e a forma como os movimentos deles, que parecem voluntários de tão bonitos, me dão vontade de sorrir. Sei que parece exagero, deves achar que só estou tentando ser “fofo e idiota”, mas é sincero: tuas mechas em castanho-escuro; as poucas mechas mais claras; tuas tranças pequeninas; o brilho que é fraco, mas existe; o volume que te deixa meio bochechuda; o teu pescoço escondido; teus ombros enfeitados; o perfume doce; os fios despenteados que sobressaem no alto e eu brinco de achar; teu coque desleixado e o cabelo caindo insistentemente no teu rosto; e tu ficando puta com ele porque “esse caralho nunca fica direito”; e eu adoro teu cabelo por te fazer raiva e me permitir ouvir teus resmungos engraçados e contemplar tuas caretas lindas.

     Não tinha vento hoje, e teus cabelos livres não dançaram. E eu percebi que, hoje, tu falavas balançando a cabeça bem mais do que costumas fazer. Acho que estavas um tanto irritada: justo hoje que tu resolveste testar a eficácia das tiaras com florzinhas e deixaste tuas madeixas soltas, o desgraçado do ar resolveu não se mover. Eu tava me divertindo com teus jeitos, nem um pouco naturais, de te pentear, desnecessariamente, com os dedos. Tive que segurar o riso depois da terceira vez que te vi jogando os cabelos para trás usando as duas mãos, tu nunca fazes isso. Será que tu sabes que nunca fazes isso? Tu tentando mostrar o que é impossível eu não enxergar é bem irônico. Como eu posso não te reparar? Hoje vi que tens muito carinho pelo “caralho” do teu cabelo, e isso, menina, me deixou muito contente e até um pouco comovido... Sei lá por que.

    Agora queria ter teus cabelos entre meus dedos. Eu te pediria pra me ensinar a fazer tranças, e eu faria umas cinco, quem sabe, seis. Depois eu iria desfazê-las e ficaria acariciando os fios torcidos, tentando entendê-los. Provavelmente eu iria embaraçar todo teu cabelo, e a gente iria gargalhar da minha burrice e de ti desgrenhada. Então, eu afundaria o rosto na parte de trás do teu pescoço, onde o cheiro é mais forte. E te beijaria ali, protegido e alucinado, até que tu te cansasses da minha babaquice e me oferecesse tua boca. Amo teus cabelos. Talvez porque eles brotam de dentro de ti, tal tua poesia. Por serem únicos e teus, e meus. Porque eu me sinto melhor tendo descoberto a beleza de amar algo simples, algo que só eu sei. Ou talvez porque teus cabelos me fazem feliz, fofo e idiota.

6 comentários:

A Maya disse...

Lembrei-me de Vinícius de Moraes:

"Cabelos negros têm seu lugar
Pele morena convida a amar
Que vou fazer?
Ah, eu não sei como é que vai ser..."

Gostei demais. Toda a linguagem informal e ainda assim rica em metáforas, em poesia.
E, sobre os cabelos, penso que a gente tem dessas de se apegar a detalhes: boca, cabelos, olhos... tudo para ver o que vemos assim, de-ta-lha-da-men-te, extraindo cada verso e cada suspiro.

Bjs

João Romova disse...

Muito bonita a sua escrita. Um jeito agressivo, poético, brincalhão. Quando comecei a ler eu pensei "me diz que esse blog não está abandonado!" heheheh

Jaya Magalhães disse...

Te ler feliz, fofo e idiota, é definitivamente algo belo, Tiago. Todas as minúcias retalhadas me fizeram imaginar fio por fio desses cabelos de poesia.

Um dos textos mais interessantes que já li por aqui. É.

Beijo.

[E obrigadas e desculpas, de onde vieram?].

. disse...

Tchágo's Coiffeur.

Jessica Mota disse...

"a beleza de amar algo simples"... Arrisco dizer que é a maior beleza e que é o amor mais pleno.

J. MD disse...

O vento aos cabelos, o amor a deriva e um cheiro que exala por todo o recinto.
Saudade de trocar algumas palavrar contigo
abraço cara.