quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Ao meu amigo tempo.

 

      Quando eu era criança, o tempo pra mim não existia. Não existia porque eu simplesmente o ignorava. Exceto quando as aulas estavam chatas demais, claro. Mas até hoje demoro uns segundos pra ler as horas nos relógios de ponteiro. Nunca usei relógios eletrônicos. Não media o tempo dos meus programas de Tv favoritos. Sabia mais ou menos em que ponto estava o dia pela quentura, vantagens de morar perto do equador. Vez ou outra a noite me surpreendia no meio da tarde. Eu brincava até depois da hora de voltar pra casa. Brincava toda hora. Mesmo quieto, lendo, desenhando ou inventando histórias em papeis amassados, eu tava brincando. Tudo era brinquedo: um carrinho, uma cadeira, um açaizeiro, o espaço entre a cama e o chão, amigos que não existiam... E eu nem sabia, mas meu brinquedo favorito era o tempo.

     A vida fluía tão naturalmente que eu acho que não fazia sentido me preocupar pra onde ela ia. Era tudo tão simples, fácil, divertido. E, apesar da repetição, os dias nunca ficavam entediantes. As coisas, pequenezas, pareciam novas todos os dias porque eu sabia muito, muito pouco delas. Lembro que eu ficava observando formigas: admirando como aqueles bichos tão pequenos, andavam, carregavam coisas, se batiam e moravam na minha casa, igualzinho a mim! Eu queria ser paleontologista pra criar dinossauros. A vida me saltava aos olhos. Às vezes eu olhava pra o céu e ficava esperando uma estrela cair. Meu olhar curioso fazia tudo ficar empolgante e mágico. Ainda não tinha compreendido como funcionavam as coisas, e eu me incluo nelas.

      Bom, se tu leste a atualização do twitter, sabe que eu tô escrevendo isso porque assisti “O Menino Maluquinho”: um dos filmes que marcaram minha infância (“Meu Primeiro Amor” foi outro hahah). Minha infância foi muito parecida a do personagem: dezenas de amigos de rua, um bom lugar pra brincar, invencionices, traquinagens (palavra meiga, hein?), etc etc. Mas, à medida que a gente vai percebendo melhor o tempo, também vai descobrindo que ele leva embora as coisas. Acho que a inocência é a pior das perdas. O mundo não é tão mágico e bonito quanto eu imaginava que fosse quando queria ter uma fazenda de Tiranossauros Rex. Descobri, por exemplo, que diferente das formigas, tem gente que não tem casa nem nada pra carregar, além da própria sorte.

      Mas, sabe, no fundo, eu continuo o mesmo. Como o Menino Maluquinho, que era maluco porque era feliz, eu cresci e me tornei um cara legal. Eu sigo inventado, criando, me divertindo, procurando manter o bom humor e o otimismo, tentando redescobrir velhas coisas (e as pessoas, e me incluo aqui também), me esforçando pra acreditar nelas e no futuro. Apesar de ter tomado consciência Dele (praticamente Deus) e do que pode fazer, continuo brincando com o tempo. São 3:40 da manhã, eu acordo 7:40 e já tô com sono desde as 2. Daqui a pouco vou sair, passar pela pracinha que eu brincava quando criança e olhar o mundo, por mais outro dia, como se estivesse fazendo pela primeira vez. Porque a gente não pode carregar o tempo e não sabe até quando ele vai carregar a gente, então é preciso prestar bem atenção na vida. Ela também continua a mesma: ainda que não sejam felizes todas as horas, viver é legal.

Ó que bonito:

 

2 comentários:

Anônimo disse...

Filho,
Obrigada por escrever tão bem.É muito bom aprender e reaprender com seus textos.
Te amo.
Goretti

Ivan Ryuji disse...

Bonito mesmo.
=)

E realmente, viver é saber o que tá te fazendo bem no que tem ao redor e a descrição do que foi/tem sido sua vida ficou muito boa. =)

Abraço!

Ivan Ryuji
http://blogdoryuji.blogspot.com/