quarta-feira, 30 de março de 2011

Olhar o mar.

 

      Acho que descobri a razão de ser tão agradável olhar o mar. Simples: é prazeroso porque se trata só de um monte de água se mexendo. Ainda que tenhamos conhecimento dos bichos, florestas subaquáticas, navios mortos, fendas infinitas, mistérios... Não vemos nada. O mar é um grande pedaço de nada indo e vindo. Alheio às preocupações, aos afazeres, à pressa, às vontades, às dúvidas, à poesia... O mar não precisa de justificativas, provas ou razões para fazer isso ou aquilo. Ele simplesmente está lá, e ninguém lhe cobra coisa alguma por isso. O mar se basta porque ele cabe em si mesmo.

      A nós, tão cheios de si que mal nos suportamos sem alguém que nos ouça, nos resta contemplar a ingenuidade do mar. Respirar a maresia procurando no horizonte infinito a paz que não achamos dentro de nós. Como se a tranquilidade estivesse escondida num lugar que não podemos alcançar. E é aí, precisamente no momento que nos damos conta da nossa pequeneza, que nasce um bem estar minúsculo e sutil. E ele é tão acanhado e discreto que precisamos nos concentrar para senti-lo. Daí ele cresce. E nos pegamos sorrindo para as ondas sem esperar mais nada. Com sorte, talvez, ainda aparece uma garrafa velha com um alô de Deus.

 

:)

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