quinta-feira, 7 de abril de 2011

Luiza.

      Luiza brincava de prender o fôlego enquanto os outros brincavam de falar besteira. Ela tagarelava há horas e, de repente, percebeu que estava muito cansada. Respirou fundo, não expirou o ar e contou até dez, depois até treze, dezessete até chegar a vinte e cinco. Ficou contente com os seus progressos. Três horas da manhã e o barzinho continuava lotado. A noite estava muito agradável e era divertido esperar para sorver o sereno só quando ele fosse vital: o oxigênio quase ganhava gosto. Inventar necessidades é uma boa tática para deixar as coisas mais intensas. Luiza gostava de observar pessoas, principalmente as do sexo masculino, e havia uma grande variedade delas ali. Ela sentia-se extremamente bem partilhando seu tempo com os amigos porque eles não se incomodavam com seu silêncio. Eles a divertiam sem esforço e eram especiais porque havia confiança mútua e uma compreensão recíproca no grupo.

      Na mesa, falavam sobre algum programa idiota de Tv. Luiza passou a prestar atenção na conversa e percebeu que ela não fazia o menor sentido porque as pessoas riam todas ao mesmo tempo e mal conseguiam falar. Luiza olhou para cara vermelha de Fabiana, reparou na crise de risos silenciosa assustadora de Marcus e nas lágrimas alegres de Bruno e logo estava gargalhando também. E quanto mais se olhavam e tentavam comentar algo, mais achavam graça. Passaram um minuto fazendo caretas enquanto procuravam articular palavras. Fabiana conseguiu recuperar o equilíbrio e disse que já nem se lembrava do por que de estarem rindo. Luiza, num rompante de meiguice, falou que as risadas vinham da felicidade sincera que todos sentiam. Depois de um silêncio estranho, Bruno disse que aquilo tinha sido muito bonito, Marcus concordou, Fabiana sugeriu um abraço grupal e Luiza, sorrindo e se levantando, sugeriu a todos que tomassem no cu enquanto ela ia fazer xixi.

      No caminho para o banheiro, Luiza chamou a atenção de alguns caras, mas eles não se atreveram a chegar numa mulher armada com um sorriso daqueles. Um destes rapazes, porém, mais audacioso e otimista que os outros, a seguiu. Para ele, ela tinha namorado. Não que ele levasse a sério a teoria da improbabilidade que contestava a solteirice de moças tão bonitas: apenas achou que Luiza tinha cara de quem estava amando e sendo correspondida. Ele a esperou sair do toalete encostado à parede, pensando no que dizer. Sua autoestima não ficaria muito abalada se levasse um fora de uma desconhecida, mas se sentiria péssimo se não tentasse nada com uma mulher tão radiante sem ter bons motivos para isso. Lá dentro, Luiza mijava enquanto cantarolava um sambinha do Cartola. Limpou-se, lavou as mãos e mandou um beijo para seu reflexo no espelho antes de sair. O moço ainda não tinha decidido o que dizer e, quando viu Luiza sair do banheiro, seu instinto o impulsionou a aborda-la de qualquer jeito.

_ Oi! Disse ele.

_ Oi. Disse Luiza.

(...) Nada disseram os dois.

_ Bom, se tu não vai falar nada, eu vou voltar pra minha mesa, tá?

_ Tu é linda pra caralho. Luiza gargalhou de novo.

_ Como assim, cara? Que bosta de cantada é essa?

_ Ué... Não é uma cantada propriamente dita, eu só tô constatando tua beleza.

_ Ah, tá bom, e tu tá constatando a minha beleza sem esperar nada em troca?

_ Eeer...

_ Huuuum?

_ Qual teu nome?

_ Luiza.

_ Bonito... Tem uma música do Tom Jobim muita linda com teu nome.

_ Sim! É linda pra caralho, né?

_ É...

_ Olha, tu quer transar?

_ Hã? Como assim?

_ Se tu disser que sim, eu posso até te explicar.

_ Mas... Assim?

_ Te achei muito bonito, tu parece ser legal, é meio bobo, engraçado, gosta de Tom Jobim...

_ Tá falando sério?

_ Tô. Transar é bom, né?

_ Acho que sim.

_ Então tá bom. Vou ficar mais meia hora com meus amigos daí a gente vai.

      Ela aproveitou aquela noite bem mais que o pobrezinho, assim como a seguinte e a depois daquela. Cortaram relações porque, inocentemente, ele apaixonou-se. Mas a felicidade de Luiza a distraia do que poderia lhe tirar dos eixos e essa história de paixão, naquele momento, soava complicada demais para ela. Sua vida parecia seguir prática e leve e, na verdade, prossegue assim até agora. A sério mesmo, só umas poucas coisas e apenas algumas pessoas. Não que Luiza seja uma tapada, longe disso, mas ninguém pode culpa-la por ter conseguindo o que a satisfaça. Ela não quer muito além de manter o que já conseguiu. Luiza é rica, mas não esbanja grana. É feliz, mas poucas vezes deixa isso explícito e só quem a conhece percebe. Às vezes fica triste ou mal humorada, no entanto, considera um privilégio poder sentir-se mal em paz, livre de censuras. E ela é tão fascinante que se tu não prestar atenção vê somente como ela é bonita. Luiza se orgulha de ter se tornado alguém que diz respeito a pouca gente.

 

Faltou isso. :)

Um comentário:

Jaya Magalhães disse...

Fantástico, fantáááástico!

Te acompanho sempre, Tiago. E é sempre tão bom quanto sempre foi.

SEMPRE.