Há o comodismo, claro. É fácil
falar de amor, paixão, sexo, o caralho. Todo mundo tem tesão, todo mundo já se
sentiu dependente, todo mundo goza, todo mundo idealiza, tem feromônio,
ocitocina, dopamina, a porra toda. Todo mundo já chorou por alguém que estava
cagando pra o que o outro estava sentindo.
Todo mundo já olhou pra cara de alguém e ficou tonto. É conveniente
amar. É confortável querer só uma boceta ou um pau pra sempre e, quando o pra
sempre estiver perto de acabar, quando não houver mais desejo, olhar pra uma
cara enrugada, um peito murcho, um saco caído, e se sentir feliz por estar ali
e não querer mais nada. Satisfazer a querência de alguém que se quer muito a
ponto desse querer sobrepor os outros quereres é uma redenção. Possuir um ser
humano, escravizar o coração de alguém, se deixar dominar pela própria
incompreensão, tudo isso é sublime. Mas querer fode tudo. A gente quer muito,
tem pouco, vai levando. É reconfortante pensar que se tem alguém que julgamos
necessário, mesmo que ninguém seja realmente essencial a ninguém. Quem pode
condenar alguém por se enganar fingindo gostar de outra pessoa pra ter o mínimo
de sossego? Quem é escroto suficiente pra olhar na cara de alguém apaixonado(a)
e explicar que seu sentimento é injustificável, que ele(a) mal conhece com quem
divide a cama, porque ninguém se conhece direito? Qual problema de querer
alguém só pra trepar, satisfazer vaidades, paranoias, compensar complexos,
afagar o ego, fugir da solidão no cinema, ouvir elogios desonestos? Falar que
não há razões lógicas pra sustentar juras eternas, planejamentos a longo prazo,
dizer que é cedo, dizer que é imprudente, não é sensato, que é possível se
apaixonar por centenas de outras pessoas mais interessantes e tudo é uma
questão de se oportunizar. É uma filha-da-putisse sem tamanho desfazer a ilusão
inofensiva dos outros por incapacidade de produzir as próprias brincadeiras. A
mediocridade também é salvação, foda-se! Eu quero mais e não tô melhor que
ninguém.
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