quarta-feira, 17 de julho de 2013

E foda-se.


      Há o comodismo, claro. É fácil falar de amor, paixão, sexo, o caralho. Todo mundo tem tesão, todo mundo já se sentiu dependente, todo mundo goza, todo mundo idealiza, tem feromônio, ocitocina, dopamina, a porra toda. Todo mundo já chorou por alguém que estava cagando pra o que o outro estava sentindo.  Todo mundo já olhou pra cara de alguém e ficou tonto. É conveniente amar. É confortável querer só uma boceta ou um pau pra sempre e, quando o pra sempre estiver perto de acabar, quando não houver mais desejo, olhar pra uma cara enrugada, um peito murcho, um saco caído, e se sentir feliz por estar ali e não querer mais nada. Satisfazer a querência de alguém que se quer muito a ponto desse querer sobrepor os outros quereres é uma redenção. Possuir um ser humano, escravizar o coração de alguém, se deixar dominar pela própria incompreensão, tudo isso é sublime. Mas querer fode tudo. A gente quer muito, tem pouco, vai levando. É reconfortante pensar que se tem alguém que julgamos necessário, mesmo que ninguém seja realmente essencial a ninguém. Quem pode condenar alguém por se enganar fingindo gostar de outra pessoa pra ter o mínimo de sossego? Quem é escroto suficiente pra olhar na cara de alguém apaixonado(a) e explicar que seu sentimento é injustificável, que ele(a) mal conhece com quem divide a cama, porque ninguém se conhece direito? Qual problema de querer alguém só pra trepar, satisfazer vaidades, paranoias, compensar complexos, afagar o ego, fugir da solidão no cinema, ouvir elogios desonestos? Falar que não há razões lógicas pra sustentar juras eternas, planejamentos a longo prazo, dizer que é cedo, dizer que é imprudente, não é sensato, que é possível se apaixonar por centenas de outras pessoas mais interessantes e tudo é uma questão de se oportunizar. É uma filha-da-putisse sem tamanho desfazer a ilusão inofensiva dos outros por incapacidade de produzir as próprias brincadeiras. A mediocridade também é salvação, foda-se! Eu quero mais e não tô melhor que ninguém. 

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