domingo, 7 de julho de 2013

Tenha sempre por perto aquilo que não é teu.


 “A gente é a soma de pequenas tragédias”, pensou em dizer. A bunda dela reluzia sob a luz distante do poste da rua. De bruços, sentiu vontade de jogar cera quente e torna-la estátua, resumi-la a objeto oco. Depois abriria a casa e deixaria estranhos invadirem seu quarto para vê-la inerte. Não cobraria nada. Ninguém deveria pagar pra ver as coisas bonitas só porque a gente vê tanta merda de graça. “Somos estrangeiros de uma pátria sem bandeira, sem capital, sem gente, sem ordem”, ele murmurou. Ela respirou fundo e as costelas se expandiram suavemente enquanto o cabelo lhe caiu sobre a cara. Sentiu-se ridículo por falar sozinho e por dizer coisas estúpidas por falta de testemunhas lúcidas. Olhou para o teto e tentou distinguir as linhas entre as madeiras do forro no escuro. Acariciou os cabelos castanhos dela como quem acaricia um gato gordo ronronando no colo. Nunca compreendera muito as outras pessoas. Não acreditava em mágica, jornais, metafísica, biscoitinho da sorte, previdência social, milhas aéreas, publicidade ou no futuro. Sabia apenas que o mundo adormecia entre aquelas pernas. 

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