domingo, 20 de julho de 2008

Verbo silêncio.

Achava que tinha o controle sobre isso, ledo engano. Isso não é racional, é atemporal, não é fabricado: é matéria pronta, sem forma. No meio do hiato desconcertado, vi a realidade alheia; tudo passava e eu acontecia. Era palavra, verbo-sujeito e silêncio.
A revelação projetada na tela entre a podridão e a poesia funcionou pra desmascarar a vida fantasiada no meio das mentiras justificáveis, as meias verdades convenientes, as hipocrisias educadas, convenções sociais, diálogos prontos e o que vemos das pessoas: ilusões de óptica. O que sobra é intensidade, sobramos todos envolta dela. E quase todos são restos apáticos.
Fosse talvez a velocidade com que o filme passava, ou quão perturbador foi assisti-lo, fato é que ver-me materializado entre o caos de uma mente alucinada por cargas absurdas de compreensão, e sangrada pelos devaneios intensificados à custa da busca frenética pela fuga e saída de si mesma iluminava meu abismo. Enxerguei um real distorcido e fundido ao virtual, não são coisas paralelas; são complementares, indivisíveis.
Escrever é sucumbir a única verdade irrefutável: toda hora, tudo acaba um pouco.
É pelas palavras que me refaço, transformo apatia em necessidade. Porque eu preciso, e ainda não descobri o quê.




Nota Memória:
Desprazeres sutis revelados na face escura Dela. Bailava entre as cadeiras que sobraram da brincadeira iniciada há alguns minutos atrás. Olha com um riso besta enquanto conta os assentos sendo levados. Eram sete, restam três, foram oito: é sempre Ela. Nunca irá sentar-se, nunca irá brigar por um lugar, Ela não precisa: perde por diversão, brinca por prazer.






Aconselho a quem leu isso até o fim assistir Nome Próprio.

Um comentário:

Anônimo disse...

Lindo,
Falas com a sutileza e a vunerabilidade de quem vive percebendo detalhes imperceptíveis, que faz da rotina um pouco menos ordinária.

Parabéns
:)