quinta-feira, 3 de julho de 2008

A Ampulheta e Eu.

Quanta falta faz um segundo a mais dentro da metade final daquele pedaçinho de tempo com os repetidos sessenta segundos - pois depois pude ver que eram os mesmos minha vida toda - que insistiram em passar apesar da força brutal que fiz pra apanhá-los. Ignoraram meu desespero e passaram com uma paciência cretina e sádica, foi tão brutal e visível que me doeu por horas, e me pesa até agora, mas eu começo a gostar da dúvida que eu matava, do que não é – e eles pararam entre o doze e o treze quando eu perdi chão e ela virou ar.
No meio daquele espaço vazio por onde passavam eu e ela, ambos liquefeitos numa substância misteriosa, algum pedaço solto, desses muitos meus emprestados a qualquer uma por tempos bem maiores do que o segundo que não existe, foi arrancado devagarzinho no meio de toda aquela letargia – no vinte e quatro eu me dei conta de que a imagem esfumaçada na minha frente me atormentaria por bem mais que o minuto que corria sem correr.
Eu paralisei, e pude sentir a imensidão de não compreender enquanto era fulminado por lembranças de fatos que nunca aconteceram envoltos a diálogos enlouquecidos que mais pareciam delírios, típicos de que quem perdeu completamente o nexo e a consciência de si - entre o quarenta e um e o quarenta e três eu permaneci de olhos fechados. Cerraria meus ouvidos, vedaria meu nariz e arrancaria minha pele se pudesse, porque o que estava acontecendo não era pra ser sentido ou captado, tudo se resumia em existir, e eu não consegui.
Depois de um balanço, um estalo, um movimento em falso, a letra errada, a nota maior, a queda e o chão, eu baixei a cabeça, abri conformadamente a mão e vi o sorriso sem graça, os olhos desviados, os cabelos dançando, o pescoço inclinado e a costa nua – entre o sessenta e o um eu inventei um segundo e me amparo nele com a vontade de quem quer se perder no que é, mesmo bem longe, junto. Numa mentira afável e linda multiplicada pela ilusão da miragem que eu nunca vi.
Distorço o tempo e nas linhas alheias do espaço corrompido vejo-a sempre entre os pontos cegos que marcam o fim e o início de um minuto.

8 comentários:

Lizandra Santos disse...

"Distorço o tempo e nas linhas alheias do espaço corrompido vejo-a sempre entre os pontos cegos que marcam o fim e o início de um minuto."

ana disse...

lágrimas são os nós que decantam os olhos. nós atados,

- disse...

as invenções não estão dentro dos segundos (?)

Lizandra Santos disse...

perguntas são feitas como comentários. As respostas ficam perdidas

Lizandra Santos disse...

bom dia!

- disse...

hahaha
então, você tem orkut e essas parafernalhas?
ó http://www.orkut.com.br/Profile.aspx?uid=14255622355214806325

sem mais.

Lizandra Santos disse...

seria boa noite,com friozinho

Filipe Garcia disse...

Tá aí, Tiago! Gostei de verdade da sua escrita. Te linkei pra poder te acompanhar mais vezes.

Abraço.