sábado, 24 de outubro de 2009

Barulho.

           

         Preciso escrever um grito. Sem onomatopéias. Sem exageros. Sem clichês. Um berro gigante que silencie tudo mais. Palavras vãs que deem significados ao que nunca teve nenhum. Me sinto vivo, e eu nem sei o porquê. Só o fato de eu estar vivo não justifica isso. A vida é latente. Existir é tão sutil que essa mera percepção é fantástica. É como se a energia de tudo fluísse pelo meu corpo e quisesse vazar pelos meus olhos. Como se a realidade fosse uma droga e eu estivesse em êxtase, uma overdose de tudo. Como se agora eu tivesse tomado consciência de que sou livre. Livre de sentimentos. Só há essa sensação metafísica, pulsante. Sorrio feito um idiota. Se eu tivesse bêbado, faria mais sentido. Se eu tivesse bêbado, eu não seria um idiota. Se eu tivesse bêbado seria um burro. Nem os bêbados, inconscientes, conseguem experimentar um sentimento tão libertador. E a liberdade é o sentimento mais perturbador que o cérebro consegue criar. Eu enxergo o que tem dentro, e é bonita a imensidão. E, se eu grito, não é para ser ouvido: é para eu ensurdecer com meu barulho. O silêncio é onde mora todas as nossas verdades.

 

Eu poderia só dizer que me sinto muitíssimo leve, mas eu peso cinquenta e poucos quilos e isso seria um disparate.  :)

5 comentários:

Unknown disse...

"E, se eu grito, não é para ser ouvido: é para eu ensurdecer com meu barulho. O silêncio é onde mora todas as verdades".
Gostei do texto por completo, mas essa parte eu achei fantástica... :)

Thaisinha... disse...

Bem instigante.
E se gritasse faria tanto sentido para tal leveza? Ou apenas encheria-a de um novo fator, a contração dos musculos e a mente vaga?
.

Ivan Ryuji disse...

Liberdade é uma coisa estranha mesmo.
Mas cuidado, se não vier junto com responsabilidade, só pode trazer problemas.
hehe

IvanRyuji
http://blogdoryuji.blogspot.com/

Jessica Mota disse...

Eu discordo na parte que dizes que os bêbados são inconscientes. Nunca vejo as coisas tão claras como quando estou bêbada. A claridade traz consciência, e traz, mais ainda, certeza. Sempre escreves bem. O melhor post que fizeste ultimamente foi o dizendo que "dói". Porque é pequeno e honesto. Eu gostei, mesmo tendo um quê de não-gostar nesse gosto, porque parece meio clichê. Entende? Enfim, parabéns! A gente se esbarra por aí. :)

Clareana Arôxa disse...

Eu fico aqui, sorrindo.
Voa, moço!