sábado, 22 de maio de 2010

Tu (que um dia vai ler e rir)

 

        Eu vou te invadir enquanto estás distraída e vou te destruir por dentro. Vou estragar tua paz e borrar de vermelho teu equilíbrio desesperado. Vou te apunhalar no peito até que ele jorre a angustia toda que varreste pra debaixo do tapete velho. Quando teus olhos me mirarem doentios e surpresos eu estarei nas tuas entranhas arrombando portas e acordando fantasmas. Eu quero ver tua carne tremer e te sentir sentindo todo o medo do mundo por não compreender quando eu te acontecer. Eu vou arrancar teus pensamentos sombrios pelas raízes e vou colocar no lugar sementes de ilusão que nunca irão brotar. Vou ocupar tuas terras só pelo prazer escroto de possuir. Vou cravar meus dentes no teu pescoço pra te fazer necessitar do meu sangue. Vou te bater na cara pra tu sentir dor bem acordada. Vou morar no teu subconsciente e ser a razão dos teus pesadelos diários. Vou fazer tu ressuscitar as palavras bonitas que te obrigaram a matar. Quero ser teu veneno mortal tua febre delirante tua obsessão incurável tua vontade de viver e morrer. Vou desmembrar teus poemas antigos que esqueceste. E cada brecha e cada continuação de todos os teus pensamentos vão dar em mim. Porque eu vou ser tua causa e a tua consequência. Vou te ferir devagar pra beber tuas lágrimas doces e te ouvir implorando pra que eu continue. Vou saber todos os teus segredos imundos e até aqueles que tu ainda não sabes. Não vou ter pena de mim quando tu me atormentar bêbada sem saber mais o que quer. Vou desvendar teus mistérios e comer da tua merda. Vou te preencher até tu transbordar dolorida. Vou te dar um aborto e uma carta escrita à pena. Vou arrancar tua língua sem tocá-la. Vou desmentir tua esperança. Vou estar no teu quarto quando buscares solidão. Vou me esconder nas tuas músicas favoritas. Vou compreender tua incompreensão. Vais me ver sempre que olhares o espelho. Não vou te atender só pra te desesperar. Vou fazer um casaco com a tua pele e um pingente com teu sexo. Vou me reinventar em mil pra te dar mais surpresas do que podes aguentar. Vou ser o rumo quase certo quando estiveres chorando perdida. Vou te escrever folhas de horríveis poemas líricos pra te fazer pensar que nem a morte te salvaria de mim. Vou infernizar tuas horas de estudo e trabalho pra tu esqueceres essas coisas. Vou ser o gosto de quem tu  buscares pra te perder de mim e tantar em vão te encontrar. Vou te obrigar a falar em silêncio quando estiveres esgotada de tanto berrar. Vou ser o ar noir quando tudo parecer colorido e sem sentido demais. Vou fazer com que perturbes teus amigos comigo até eles começarem a te evitar. Vou ser todas as páginas de todos os teus diários. Vou me embriagar narcísico com teus textos alucinados. Vou navegar entre tuas tempestades insuportáveis e tuas calmarias mais insuportáveis ainda. Vou fazer com que não me queiras pra tu me querer mais. Vou fazer com que percas os sentidos de tanto usá-los. Vou sujar teu corpo com frases soltas pra tu ficares com pena de te limpar. Vou ser todos os teus tragos e tua mais preocupante doença. Vou estar te esperando no fundo de todas as garrafas vazias. Vou ser tua poesia e a tua Tv. Vou citar Drummond Poe Rimbaund Vinícius Lorca Pessoa Lispector Shakespeare Quintana Gabo Caio Chapman Florbela Sartre Dos Anjos Borges Maiakovski Tu e tudo quanto for preciso inventar pra te ver sorrir apalermada. Vou dirigir um clássico baseado no teu pavor de mim pra que tu assistas te torturando até bem antes de tu morrer. Vou ser teus becos sem saída. Tu vais me provar que me ama de jeitos inimagináveis e eu vou dizer que nunca é o suficiente. Vou te congelar quando fizer frio e te derreter quando estiver muito quente. Vou te tatuar um clichê. Vou ser a reza que te perdoa dos pecados que cometeste por mim. Vou ser tua descrença. Vou te dar um pingo de esperança e uma dose de terror. Vou roubar tua alma teu espírito e teus neurônios. Vou beber teus hormônios. Vou escandalizar deus e o mundo pra tu sentir vergonha de sentir vergonha de mim. Vou te dar um anel de plástico e uma árvore morta com nossas inicias. Vou ser teu amigo imaginário. Vou fazer uma promessa e depois vou jurar por ti. E se nada disso der certo e eu te acabar ou tu me acabar e a promessa se quebrar eu te dou um abraço apertado e digo obrigado por existir em mim.

3 comentários:

Letícia Cardoso disse...

Porque tu escreve melhor que eu, hein? Te odeio Tiago. =P

Anônimo disse...

já li e reli umas 30 vezes, que fofo...mto bom, espero o livro viu?
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Paula Sardinha

Anônimo disse...

você já me assassinou dezessete vezes hoje, Charlie. Poxa!