quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Saber comer.

 

       Eu gosto da vida porque ela é imensa. Se a vida fosse pequena, repetitiva e entediante, eu não a suportaria. Imagina ter que ver os mesmos seis filmes todo o tempo. Ou ouvir sempre as mesmas oito músicas de um único CD. Ou falar só com as mesmas dez pessoas, entre gente da tua família e colegas desagradáveis da tua pré-escola. Ou passar a vida viajando entre três cidades minúsculas onde não há nada além de duas pracinhas sem nenhuma árvore e uma igreja evangélica extremista em cada uma delas. Ou ler sempre o mesmo livro, um livro universal e sem concorrentes, mais chato que a Bíblia, um maldito livro de autoajuda te ensinando a ser feliz num mundo com poucas coisas pra te fazer feliz, um livro escrito pela Ana Maria Braga! O inferno deve ser assim: um tédio eterno, entre sessões de sadomasoquismo e shows de rock... Ou talvez o céu seja até pior: cheio de anjinhos assexuados (e ainda sim afetados: purpurina rosa, cachinhos dourados irritantes e um sorriso de cu que só representa apatia) tocando harpa 24h por dia dividindo espaço com bilhões de almas morféticas jogando dama numa paisagem feita de nuvens fofinhas que não muda nunca. Por via das dúvidas, prefiro ficar por aqui mesmo.

       Apesar dos pesares, eu pelo menos tenho certeza de que amanhã vai ser inédito. Tá certo que a vida às vezes fica previsível demais. A rotina vira uma sucessão de probabilidades que dificilmente não se concretizam. Mas eu tento sempre colocar algo novo no meu dia: um filme, um cantor desconhecido, um texto, um livro, uma conversa bizarra, um caminho diferente, uma merda qualquer que mantenha meu bom humor. O dia vale a pena por pequenas descobertas. Pequenos prazeres, como cantar no banho. Além do mais, as probabilidades são incertezas, e como diz aquela música do Acioli Neto: “se avexe não, que amanhã pode acontecer tudo e inclusive nada". O futuro é indecifrável e pode sim surpreender a gente se estivermos abertos e nos oportunizarmos a isso. É preciso ter fé na gente, no acaso, nessa expectativazinha saudável de esperar pelo desconhecido.

       Até bem pouco tempo atrás, eu não me permitia e não me ajudava a ser feliz porque achava que se eu não devorasse o mundo todo de uma só vez, eu estaria sendo medíocre. Mas a pior mediocridade não tá no que tu não vives e sim em como tu não vives. Tá certo que eu não tô viajando pelas Europa (ainda!), mas pelo menos eu não sou um idiota com a mente fechada que é totalmente avesso ao novo e ao que não compreende. Entendi que a gente precisa comer o mundo aos pouquinhos pra ir aproveitando direito o gosto das coisas. Hoje comi um filme fodástico do Woody Allen e um CD lindo da Nara Leão. E eu posso ficar despreocupado porque vai ter sempre coisa pra comer. Afinal, somos mais de seis bilhões, né? :D

 

Extras:

      Hoje eu acordei indisposto e meio puto. Eu estudo de manhã, durmo poucas horas à noite e quase todos os dias da semana eu acordo assim, normal. Mas hoje aconteceu uma coisa engraçada. Bom, não muito... Foi divertido, vai. Enfim, na saída eu cumprimentei meio emburrado o porteiro e passei apressado pelo portão. Só que o porteiro não tinha aberto totalmente o portão e eu dei uma cabeçada filha-da-puta nele. Aí o cara ficou me olhando com uma cara de preocupado, eu olhei pra ele e tive uma crise de riso! Eu fiquei rindo passando a mão na cabeça e o porteiro ficou sem saber o que fazer. Acho que ele ficou indeciso entre o gelo e o psiquiatra e escolheu só dizer ‘’cuidado’’.

      Esse negócio que aconteceu hoje de manhã me fez perceber que eu to muito bem. Eu to realmente em paz e equilibrado. Seis meses atrás eu voltaria pra casa e escreveria um texto depressivo praguejando a vida por uma merdinha superestimada. Hoje eu percebi que eu aprendi a ser feliz. Vocês tem culpa nisso, acreditem. Pois então, olhando o layout do blog, eu percebo que ele não combina mais comigo, sabe? Não me identifico mais com esses tons de cinzas pesados, essa coisa densa, dark, melancólica, esse carinha sentado aí, cabisbaixo... Quero mudar. Não o nome do blog, porque ele é ótimo e é desnecessário mudar o nome se eu o fizer significar outra coisa mudando só a aparência do site. Com receio de que seja inútil, vos pergunto: o que acham da ideia? (não que eu não vá mudar de qualquer jeito, mas seria legal ler a opinião de quem se importa com o blog :)

A tal da música é essa, ó:     

 

                           (forropop é um cu, forró de raíz é muito, muito legal :)

3 comentários:

Bernard Freire disse...

Legal são os teus textos.
(Não é frescura de amigo, é porque me supreende cada vez mais que eu leio)

Anônimo disse...

mudee sim ! o importante são os textos continuarem sempre maravilhosos.
parabéns . adoro te ler.

Anônimo disse...

Eu gosto mesmo e dos textos,rs, eles são fofos, se bem que eu gosto de preto... ¬¬. Mas mudar é bom, é o que dizem,rs. Tem uma frase bunitinha assim oh:" Hoje eu descobri que mudar dói, mas não mudar dói mais ainda". rs
By Paula Sardinha