sábado, 10 de setembro de 2011

Recalque.

      Escrevo consciente da inutilidade do que faço. Porque ode nenhuma que eu possa brandar chegaria perto de fazer jus ao teu encanto. Ainda que embalado por fantasmas de imortais trovadores ultrarromânticos, mesmo que escrevesse em desatinos febris após tempos te contemplando, que passasse eternidades dentro de eternidades te cobiçando com urgência e falta de pudor, por mais que o próprio Divino Espírito Santo usurpasse meu copo, conduzisse minhas mãos, aclarasse meus pensamentos e um rio bravo de palavras lindas, cálidas, penetrantes, inquestionáveis se derramasse por ti e encantasse qualquer um disposto a vê-lo correr, ainda assim, tudo seria vão.

      Eu poderia ir ao fim do mundo e ordenar a Zéfiro que soprasse jasmins, lavandas, gardênias, lírios, gerânios, e que as flores mais especiais expirassem e soprassem por ti ventos de mil fragrâncias hermeticamente combinadas em perfumes que, de tão maravilhosos, até Deus não hesitaria em fechar os olhos para senti-los melhor. E faria isso todos os dias, só para que sorrisses, tranquila, sentindo uma brisa leve, logo cedinho depois de tu pôr os pés para fora de casa, assim cada um dos teus dias começaria com a promessa de algo bom. Pois um ser tão belo como tu não merece experimentar a feiura dos sentimentos execráveis que contaminam a podridão humana. És semideusa, estátua de mármore, ninfa, mistério da natureza.

      Em noite profunda, sei que fadas, anjos, elementais, espíritos de luz, se esgueiram para dentro do teu quarto e ficam mudos admirando tua beleza repousar. Pois não há, nem entre as coisas viventes, nem entre as inexistentes, tão pouco entre as que ocupam o limbo entre a verdade e a mentira, criatura tão maravilhosa quanto tu. E é por isso que eles vêm te ver, vêm te adorar, vêm sorrir para ti, porque tu és tão admirável que estás acima do limiar que ocupamos: esta terra sem graça que separa o que desconhecemos do que achamos conhecer. Tua beleza vai além da capacidade humana de percebê-la tamanha sua plenitude. Tu carregas o brilho de mil estrelas, uma força inexplicável e intraduzível, um sopro divino impossível de ser teorizado porque tu és a obra prima do Criador e Ele sabe disso.

      Assim, tomado por lirismos constrangedores, admirando tua face milimetricamente modelada e remoendo fantasias tolas, abro mão da racionalidade e escolho voluntariamente me entregar ao teu engodo. Porque sei que tu és uma quimera superficial, tonta, egoísta, metida, presunçosa, mentirosa, lesa, sem conteúdo, egocêntrica, manipuladora, orgulhosa, aproveitadora, mesquinha, intragável, efusiva, invejosa, desequilibrada, inconsequente, mal educada, espírito de porco, melindrosa, hipócrita, preconceituosa, arrogante e pau no cu. Tenho quase certeza de que só nasceste porque Deus quis se masturbar homenageando a perfeição que Ele é capaz de criar. Deus é vaidoso e foi por isso que na ânsia de enfeitar o jarro, se esqueceu de preenchê-lo.

 

Gente, obrigado por lerem essas bobagens. O texto do próximo sábado vai ser melhorzinho… Ou não. Inté. :)

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