sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Férias

Correr até o suor desitradar o corpo e deixar a alma evaporar sem pressa, como se não houvesse remédio pra sede. A ida justifica o caminho e nós vamos refazendo passos como uma curupira chapada voltando pra casa.

sábado, 24 de dezembro de 2011

Desmembramento.

      Tem a vontade de te desossar como se limpa uma galinha indefesa. Arrancar teu sustento sem piedades ou culpas e te fazer prostrar. Renegar tua humanidade e te querer como um objeto de decoração que, no fundo, é pouco mais que inútil. Enfeitar minha vida com tuas entranhas expostas e ignorar o apodrecimento da tua essência. Pecar abusando da tua falta de discernimento como quem escraviza um cão. Não há erro que não possa ser perdoado se a vontade de cometê-lo for muito sincera.

      Tu vai sumir sem querer, porque é assim que as pessoas vão pra não voltar. Vou me entregar à pena por tédio e enjoo. Vou desistir de sobreviver, mas só até desistir ficar mais difícil que sobreviver. Não tem dor que resista a ela mesma. E nós fazemos promessas só pra ter o prazer de desfazer nosso futuro. Foi bom quando prever era sádico e tu te doía. Agora eu percebo que meu erro foi não afogar teu espírito com a minha mágoa. E me peço perdão por ter te dado vida enquanto pude.

sábado, 17 de dezembro de 2011

Dentes-de-leão.

      Concluo raciocínios frágeis que se despedaçam feito dentes-de-leão buscando a brisa da primavera. A razão é pedra-bruta coberta por nesgas de limo que recusam meus toques. Luto para esculpir a cabeça da esfinge que me escancara seu peito de leão. Minhas mãos vacilam como as de um arqueiro mirando um alvo invisível. Os tempos se misturam e me vejo diante de um quebra-cabeça incompleto que montarei, já desmontei, acho que perdi. Quebro a marretadas becos sem-saída e desconstruo o labirinto.

     Resta a constatação óbvia, tão evidente quanto o toque, indiscutível como a persistência de sonhos em cornubações ancestrais que durarão até o fim das eras. O desejo primordial nascido de ausências vagas desde o estigma da concepção. A vontade de livrar-se das chagas que imolam em horários impróprios os corações mais seguros de si. Uma cãibra na alma que nos espreita igual bicho de olhos famintos que cresceu sem afago.

     O sublime apenas se insinua e sua menção já basta para explodir estrelas em faíscas que viajam por eternidades. Vejo-as num tempo fabricado por sinapses desgovernadas que trovejam em sorrisos. Tento renegar a verdade do espelho como um demente desembestado que busca fugir de sua sombra. O menos inútil é pedir arrego e dois litros de vodka. E render-se, enfim, até se entregar à perplexidade daquilo que se explica calando.

sábado, 10 de dezembro de 2011

Retiro Espiritual.

      Vamos rir da cara dos crentes e mandar os responsáveis pra casa do caralho. Revolucionar nossas vidas abolindo nossas castas. Vestir trapos e nos despir da vaidade e do conforto. Esquecer a internet e anular nossa personalidade até sermos esquecidos pelos nossos pais. Bora comer manga caída, açaí do pé, peixe velho do ver-o-peso, beber a chuva que cai da calha. Morar embaixo do toldo de uma loja velha e passar fome até nossas tripas ficarem bem grudadas nos ossos. Perder a sanidade enquanto nos negam trocados e fingem que somos fantasmas. Assombrar o mundo e gemer no pé do ouvido dos falsos, dos hipócritas, dos sem caráter, da gente toda.

    Quando estivermos perto de morrer de desespero, a gente viaja no lombo de um jacaré pra o outro lado do rio e vai viver de favor em casa da floresta. Adotamos uma oncinha de estimação e um bicho preguiça: Oswaldo e Teodoro. Vamos perder as ambições e os desejos, ficar sem querer porra nenhuma além daquilo que a gente pode alcançar. E nos embriagaremos com o cheiro de mato e sereno todas as noites enquanto brincamos com mosquitos da malária. Acordaremos às seis e daremos bom dia pra os vizinhos passando à margem. Vamos lavar a roupa na água suja e deixar os dentes apodrecerem. Pegar uma disenteria de nove dias e se amar na merda.

    Morrer honestamente, sem cuidados ou chances, sem esperanças ou ilusões. Encarando nossa miséria com resignação e coragem. Vamos responder pela invenção dos nossos pecados e pela comiseração diante do pecado de todos os outros. Pedir pra um açougueiro colocar nossos órgãos num isopor com gelo, derrubar dois açaizeiros e fazer uma fogueira santa pra nossas cinzas voarem pela baia. Tá tudo planejado, tá tudo certo. Viemos com defeito, nosso lugar não é aqui, não era pra ser assim. Vamos fazer do jeito certo, fazer da pobreza a redenção, da loucura um caminho, da dor um refúgio pra frustração de não ter o que queríamos. É só olhar em volta e ver que não tem nada de mais pra ser visto.

sábado, 3 de dezembro de 2011

Fragmentos kkkk

Tiago diz:
porra
preciso escrever o post pra o blog
me ajuda?
vamo fazer a 4 mãos
um diálogo
escolhe um personagem

clara diz:
xo pensar.
Kaffu, jogador de volei iraniano
21 anos

Tiago diz:
eu quero ser um urso panda que veio viver num santuário de SP
tá bom, tu veio jogar no time de são paulo
(são paulo tem time de vôlei?)

clara diz:
(tem)
(todo canto tem)

Tiago diz:
ok, tu foi levar tua namorada Zuleide ao zoológico e descobriu que eu sei ler a mente das pessoas porque fui cobaia num experimento chinês ultrasecreto que queria censurar o que as pessoas pensavam

clara diz:
QUE HISTÓRIA PÉSSIMA HAHAHA

Tiago diz:
VELHO
ok, Kaffu, eu sei que você não ama ela. Ela só quer seu dinheiro, não se engane. Me dê um amendoim.

clara diz:
só dou picolé de pistache para pandas que lêem mentes
ajuda a digestão do pensamento

Tiago diz:
eu não sei o que caralhos é um pistache, it doesn't work, opa, pensei em inglês

clara diz:
pistache é uma paradinha verde

Tiago diz:
é fruta? não tem disso na china

clara diz:
véi, como assim, pistache: http://pt.wikipedia.org/wiki/Pistache

Tiago diz:
HAHAHA
sua imunda, eu sei ler mentes não tenho um ipad no cérebro!!!

clara diz:
mas pistache tá no inconsciente coletivo!

Tiago diz:
EU NUNCA VI UM PISTACHE NA VIDA
não tem como essa imagem ter fincado no meu inconsciente pelo código genético porque nenhum panda nunca viu um pistache!

clara diz:
mas você deveria ter visto no inconsciente coletivo dos humanos]

Tiago diz:
ok, tu venceu, não tinha pensado nisso
FIM
perfeito
entrará pra os anáis da literatura do século xxi como obra exemplo da contemporaneidade

clara diz:
eu tenho senso de humor de um menino de 11 anos
sempre morro de rir com a expressão
"entrará para os anáis..."

 

 

‘brigado, clarissa