Um banco, a noite, o frio, o chuvisco e um casal de desconhecidos.
Sentou-se lá por um motivo irrelevante qualquer, ele tinha absoluta certeza que iria se decepcionar, um pretexto idiota. Talvez a silhueta atraente dela e o seu rosto parcamente iluminado pela luz branda da lua revelando a expressão de contemplação o tenham atraído, ele mesmo não esperava que tivesse tanto ímpeto a ponto de fazê-lo falar algo. Mas a sensação de proximidade com aquela misteriosa moça escondida e inalcançável valeria semanas vividas.
Ele aproximou-se devagar, seu coração acelerou um pouco, e de perto ele a viu. Paralisou.
Ela desviou os olhos vivos das estrelas e notou o vulto estático a sua frente. Congelou.
Não sei quanto tempo passou, nem se passou.
Então alguém disse: Oi.
- Oi.
- O que vem agora?
- Hã?
E alguém sorriu.
- Depois do ‘oi’. Se não me engano, é uma saudação, e como nenhum de nós dois está de passagem, é natural que se siga um diálogo, e um diálogo é feito com palavras. Como você consegue articular as palavras, e a frase atual é minha, então, é muito provável que venha algo de você.
Alguém riu muito, um riso puro, de felicidade, uma felicidade inexplicável, como se o algo que estava guardado, e esquecido de ser esperado, adormecido aguardando pra acontecer finalmente tivesse nascido. Não conseguia crer no que escutava. Via, sentia, mas não era compreensível.
- Pois depois do ‘oi’ pode vir qualquer coisa. Inclusive coisa alguma. Posso ficar em silêncio, enquanto olho dentro dos teus olhos e escuto tua alma gritar, e me distender da realidade: deixar meus movimentos serem guiados pelos milhares de sensações que estou sentindo agora, e talvez...
Alguém absorto num estado desconhecido de alegria misturada a uma euforia que não era cabível no silêncio continuou:
-... Ligados pelo corpo, e aumentando cada sensação infinitamente, talvez nesse estado de sintonia irreal, como se fossemos uma parte do que era o outro até antes do ‘oi’, e agora, portanto, somos só um alguém perdido e a parte de tudo. Feito duas almas desencontradas dentro de duas consciências insanas que se fundiram e se tornaram mais que sentimentos ou sensações... Tornamo-nos isso... Somos qualquer coisa.
Alguém chorou, chorou soluçando, quase desesperadamente. Não era tristeza, era mais: uma depressão instantânea.
- Meu ônibus. Preciso ir.
- Eu não entendo.
- Isso.
Alguém foi. E ficou, não entendeu, e acabou.
8 comentários:
ISSO NUNCA ACABA MEU AMIGO.
.
As vezes não é preciso acordar para ver que o sonho acabou.
post liindo,apesar de eu não te-lo entendido completamente.
Foi e ficou é uma morte não morrida.
com essa greve de onibus...dá até dó viu? nao consigo nem falar...
Oi meu novo amigo
Bonito blog e belo texto.
Parabens.
voltarei sempre amigo.
Te aguardo no meu cantinho.
Regina Coeli.
bela prosa. belas fotografias.
belo saber que nada é tão exclusivo que só venha acontecer com uma pessoa. claro que são experiencias únicas, porém se repetem entre os humanos, em outros lugares e com outras palavras...mas cada um leva o peso das circustancias do lado que o ombro aguentar mais.
bruna foscarini
...Belo...
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