segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Enjôo.

1:39 da manhã. Sua cabeça estava pesada, os olhos ardendo e o coração apertado. Apesar disso, dos dias, das 18 horas, do sono e das angústias, ainda atingia-o a estranha indiferença que agora, por vacilo e consecutivos imprevistos, passou a latejar.

Precisou desligar-se, apagar e calar-se. Aliás, não precisava, apesar de ser do seu agrado, não era carência de silêncio: ele quis. Não foi um desejo voluntário, não fez força, não era necessidade também. Apenas perdeu a vontade de envolver-se.

Ele, o gosto, simplesmente ausentou-se sem avisá-lo previamente; não era ele que pertencia o gosto: o gosto era seu dono, e decidiu torturá-lo. Faltou paciência, faltou disposição, faltaram palavras, faltou prazer e lhe restou um embrulho no estômago, uma náusea esquisita.

As caras, os gestos, as falas, as graças e os jeitos transbordaram os limites que ele mesmo desconhecia. Encheu-se delas. Havia chegado ao limite da pretensão: roubou por completo o que
tinha para ser roubado dentro das restrições legais, íntimas, físicas e emocionais.

Não ofereceram mais o que lhe interessa, e apesar de sua postura assumida, e claramente egoísta e egocêntrica, é só isto que lhe sobrou na falta do que mais queria: sua mais simples e
inútil constatação.

Encarava a situação friamente, e passou a associar e resumir a complexidade extraordinária de que são feitas as pessoas à simples notas músicas. Precisava de melodias novas, atraentes e envolventes para escutar e substituir o que se tornara um barulhinho insuportável. Foi, possivelmente, a repetição exagerada: o contato direto, o fim das idéias, das graças ou dos encantos. Sei lá.

Carecia do novo, e dessa vez, para sua infelicidade, é precisamente esse o verbo. Necessidade absurda de descobrir o que não sabe; explorar mentes diversas; analisar e entender; ter acréscimos; risos novos; assustar-se com diferenças, ou semelhanças até, mas, isso era mais complicado.

Talvez estivesse sendo forçado a redescobrir o que já conhece, entretanto isso não dependia dele. Criava estórias espalhafatosas, inventava sentimentos ternos, fazia mentiras apropriadas, porém, suas barreiras internas não lhe permitiam determinar os atos certos para as palavras.

Ou quem sabe toda essa droga estivesse sim em suas mãos e lhe tenha faltado pulso, coragem e confiança para chegar a outros pontos; quebrar umas barreiras; contrariar umas vontades; evolver uns relacionamentos; calar umas bocas com a sua. É uma pena que sintonia não exista sem ao menos dois pontos.

Quem sabe...

Faltava muito. O pior, mais triste, irônico e divertido, é que somente ele mesmo poderia dar-se o que lhe supriria. Não tinha tais coisas porque na sua visão, que ele apelidava de realista, mas na realidade era o inabalável pessimismo traduzido de suas inseguranças, elas quebrariam outras.

Detestava a coerência das coisas, elas sucessivamente lhe acabavam no final de cada probabilidade.

Solidão foi conseqüência direta e inevitável, mas foi escolha também, pelo estúpido fato de que não existia uma melhor: era a sua opção, a falta dela.

3:23 da manhã. Minha cabeça está pesada, meus olhos estão ardendo e meu coração está apertado. Falta paciência, falta disposição, faltam palavras, falta prazer e me resta um embrulho no estômago, uma náusea esquisita.

4 comentários:

.Ná. disse...

E tudo só ficará melhor se conseguirmos dormir, né?
Bjos

Gaio! disse...

Parece o começo de um livro.
;*
Beijos

Mariana disse...

Eu nao sei quem é vc... e vc tb nao sabe quem sou eu...

mas impressionantemente você fala de coisas que eu vivo....
E nao é a primeira vez que comento isso aqui.....


"Solidão foi conseqüência direta e inevitável, mas foi escolha também, pelo estúpido fato de que não existia uma melhor: era a sua opção, a falta dela."

Foda.!!

Anônimo disse...

Bonito(aho que já entendes)

ps: se lembro Clarice só pode ser pelo Complexo de Lispector(não consigo ler o que eu escrevo por uma segunda vez, sempre parece patético)