quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Ponto e vírgula parêntese.

De Artifício, entre uma estrela azul e um círculo verde.

Ao lado, os familiares próximos juntavam-se aos familiares longínquos que se misturavam ainda com aqueles desconhecidos que eu tenho o direito de desconhecer. Superaglomerados humanos nunca me agradaram, para mim, parece sempre uma micareta disfarçada de qualquer outra coisa. Mas eis que o calor humano e aquele clima de confraternização (onde saudamos recém-conhecidos com todo o entusiasmo do mundo), talvez amplificado pelas centenas de pessoas ou, quem sabe, aproveitando-se da minha sensibilidade aguçada, me fizeram sentir arrepios na espinha. Dirijo, então, meus olhos para o céu quando os primeiros estrondos começam e as últimas pessoas terminam de me dar as mais sinceras felicitações e comprimentos.

Vermelho, riscos, azuis, bolas, alaranjados, anéis desfazendo-se, amarelos, arcos, cinzas... É, se superaram esse ano... Os olhos! Quero ver se enxergo nos olhos alheios a mesma sensação boa daqui de dentro. Nesse momento, passa pela minha bêbada cabeça a idéia mais extraordinária, brilhante e inteligentíssima que eu já tive desde o ano passado: subir num banco.

Tenho altura mediana, nada me impediria de olhar para os lados e enxergar perfeitamente uma dúzia de rostos encantados. Mas, para não me contrariar, decidi procurar um banco onde haja, ao menos, um lugar para a ponta dos meus sapatos. Ficando uns trinta centímetros mais alto, meu campo de visão aumentará muitos metros, pensei sabiamente eu... Não, essa não é uma daquelas histórias tragicômicas que precisamos contar para o máximo de gente possível, numa tentativa desesperada de nos livrar da vergonha que sentimos de nós mesmo. Sinto decepcioná-los: eu não caí nem na frente, tão pouco em cima, da multidão de pessoas que me cercava.

Era uma praça, então eu me afastei em direção às extremidades procurando os bancos de madeira que, provavelmente, teriam mais espaços que os centrais (onde a concentração humana era maior e as árvores enormes não bloqueavam a vista).

Roubaram minha idéia. Alguém muito bonita roubou minha idéia.

Cinco metros me separavam do banco. Do vestido branco contra o vento moldando um corpo magro, lindo. Dos cabelos ruivos dançando. Dos olhos.

...

A seguir um diálogo torto, meio desfalcado, que resultou em beijos e num sonho:

- Roubaste minha idéia, hein.
Falei nervoso e meio sem jeito.

- O quê!?
Disse ela espantada, talvez pensando que eu fosse assaltá-la. Eu pensava na sua boca.

Silêncio.

- Subir no banco pra ver as pessoas, idéia minha.
Tentei me justificar, já arrependido de ter iniciado aquilo.

- Bonito, né?
Os olhos dela brilhavam. Mas ela olhava para os meus olhos, não para as pessoas.

- Não sei, eu tô aqui embaixo.
Falei soltando um riso estúpido.

- Ué, sobe aí!
Sorriso enorme, um passo para o lado, mão estendida.

Pirotecnia.

À tarde, eu sonhei que encontrava uma cidade perdida. De longe eu só conseguia ver uma grande muralha, na verdade, acho que era uma fortaleza. Ela ficava à beira mar, numa praia deserta. Tinha água escorrendo: fios de água passavam por debaixo do muro, depois se ligavam e formavam uma pequena lagoa em frente à fortaleza. Da lagoa, a água seguia num riozinho para o mar, bem próximo dali. O céu estava um pouco nublado e a água azul brilhava muito forte. Um narrador invisível me disse, por algum motivo, que a água era fria e que eu aproveitasse. Quando me aproximei da entrada, enxerguei apenas pedras gigantes dispostas aleatoriamente no interior: como estátuas da ilha de Páscoa, porém, sem forma. Naquele grande labirinto surreal, corria nua sobre a areia branca uma moça ruiva, rindo sozinha. Eu corria atrás dela. Eu a alcançava.

...

- Alô.

- Ôôiiê... Ponto e vírgula parêntese...

- Hã!?

- Rararará!

- Rararará!




Muito feliz ano novo. Que os sonhos de todos se realizem eticéteras, eticéteras, eticéteras. ;)

5 comentários:

Clareana Arôxa disse...

Sabe que final de ano sempre chega aquele negócio de nostalgia e tal. Aí, pelo menos eu, fico pensando no que eu fiz ao longo do ano, as coisas boas que apareceram, que sumiram (tanto que eu não resisti e joguei no blog tudo o que tava aqui por dentro, o que precisava sair em forma de letra). E pensando nisso, tenho que chegar aqui e agradecer a invasão das tuas palavras, das tuas intensidades na minha vida. Esse teu jeito meio Caio de ser, meio vago dá um murro na barriga de qualquer cidadão. Tu joga, pelo menos na minha cara, algumas verdades, algumas falhas,a excesso de sensibilidade, o que um porre faz no dia seguinte e melhor, tudo em forma de poesia. É lindo, Tiago, é vivo.Tu joga, aos tantos ventos que forem necessários, o que as pessoas deveriam dizer, mas sentem medo, mas não sabem concordar a frase quando o sujeito é você mesmo.
Que teu livro saia ( e claro, eu tenha um exemplar) e que tua cabeça enlouqueça cada vez mais com essas respostas que não chegam . Muita inspiração, muita, muita.
Todo amor que houver nessa vida e algum veneno anti-monotonia.
E que 2009 seja doce ( 7 vezes para dar sorte).

Eu nem sei mais o que eu tou falando, deve ser esse espírito embreagado de início de ano.

Um beijo!

Anônimo disse...

QUE LINDO.
Esses são os melhores encontros do mundo, os do nada. ;~~~


Feliz 2009. ;)

Felipe Lima disse...

ai, ai... história boa prum início de ano sem promessas. eu acho que gosto muito de tudo isso aqui.

Jaya Magalhães disse...

Eu fiz cena de tudo, até chegar na parte do sonho. No labirinto surreal, me perdi. E acho que tinha mais era de ser assim mesmo, não? Num encontro de sonhos, apenas os presentes se fazem história.

Beijo, Tiago.

Anônimo disse...

Óh Tiago... não te esqueças dos medicamentos!

Porque se deixas alastrar estás ......

E como sabes, os hospícios dos gajos sãos, já encerraram por ordem do anterior ministro das doenças.

Um abraço do colega e amigo

Zé estarola